POV JUSTIN
Uma Semana Depois...
Sabe
a dor de perder a pessoa que se ama? A dor de saber que vai ser odiado
eternamente pelo ser amado? Aquilo me doía, era como se estivessem
arrancando um pedaço do meu coração. Perdão, não apenas um pedaço, o
coração inteiro. Eu sabia que nada do que fizesse poderia impedir o que
estaria por vir. Sabia que não poderia evitar, pois ela com certeza
pensou bem antes de fazer a ameaça. Era tão cruel. Tudo o que queria era
estar perto dela e abraçá-la forte. Dizer que estava tudo bem, e que
jamais a deixaria. Aquilo não aconteceria. Não poderia mais fazer certos
tipos de promessas. Não quer dizer que não tentei. Mas não tinha forças
só de pensar na ideia de perdê-la. Os dias se passaram tão rápido. Em
um piscar de olhos, já se passara uma semana e meu prazo estava
encerrando. Não tinha ideias para tentar reverter a situação. Eu não
podia contar a ela. Já bastava o tumulto que sua vida tinha. Com um pai
morto e infiel, uma mãe que a odeia sem razões, e uma família distante.
Ultimamente, Anna tinha tantos problemas. Sabia que a noite ela chorava
baixinho para eu não ouvir. Ela por mais que tentasse, não conseguia
desabafar era como se algo nela não permitisse. Ela prefere sofrer
sozinha. Ou talvez ela deteste o olhar de pena que certamente faria. Ou
que ela pensava que eu faria. Era difícil ver ela chorar e fingir que
está bem. E ao lembrar o que faria com ela nos próximos dois dias, me
fazia sentir nojo de mim. Nojo por saber que seria obrigado a machucar
ainda mais seus sentimentos por ter me descuidado daquela maneira. Pois é
sou um idiota!
-
Comida... - ouvi uma voz conhecida falar ao descer as escadas e
interromper meu pensamentos. Um sorriso surgiu em meu rosto
automaticamente, enquanto ela andava lentamente até mim e sentava sobre
meu colo, enquanto eu lhe abraçava a cintura trazendo seu corpo para
mais perto do meu. Anna tinha o cabelo bagunçado, vestia um pijama engraçado tinha
o rostinho minimamente amaçado. Ela coçava os olhos e parecia que seu
corpo estava mole. Mas ainda sim, continuava linda. Preguiçosa e
sonolenta. Minha mãe, continuava a cozinhar mas poderia ter a certeza de
que estava rindo da carinha de boba que minha namorada fazia.
-
Bom dia meu bem... Já estou terminando os waffles. - comentou minha mãe
risonha, do outro lado da cozinha. Anna virou-se para mim e pude notar
que ela estava realmente sonolenta. E aquilo me fez rir. E beijar sua
bochecha, claro.
- Bom dia, anjo. Porque acordou tão cedo? - perguntei rindo, mesmo já sabendo a resposta.
-
Comida... - respondeu baixo de uma forma logicamente preguiçosa. Sua
respiração estava batendo forte contra minha bochecha e ela estava quase
dormindo no meu colo. Mas ela tentava a todo custo se manter acordada,
apenas para comer, já que o cheiro da comida a despertou. Acho que
deixei a porta do quarto aberta.
-
Você sabe que estamos na minha casa? - perguntei segurando o riso vendo
ela morder os lábios e voltar a coçar os olhos. Se soubesse o quão
linda estava, e o quão me sentia culpado por fazer isso com uma pessoa
tão... Tão Anna.
- Estamos na sua casa?
- Sim, você está morando aqui faz exatamente uma semana.
-
Nossa... Pensei que estivéssemos em uma casinha feita de batatinhas
fritas e... Por que você está parecendo uma almôndega gigante? -
perguntou ela tocando minha bochecha com o dedo indicador, preguiçosa.
Como se estivesse com medo de que me tornasse uma comida gigante e ela
fosse obrigada a me devorar. E com seu olhar curioso sobre mim, me
permiti rir junto a mamãe.
-
Céus, você está mesmo com sono Anna. Porque não vai dormir um pouco e
quando acordar mais tarde eu faço mais alguns para você. - tentou mamãe,
virando e encarando a garota que negou preguiçosa. Ela parou por um
tempo, piscando lentamente. Fechou os olhos por dez segundos, os abriu e
bocejou em seguida.
-
Comida, eu quero comida... - respondeu baixo encarando fixamente o
prato que minha mãe trazia na mão até a mesa, mordendo os lábios e pude
sentir sua barriga roncar. Ela pegou o waffle e deu a primeira mordida
de olhos fechados, quase dormindo. Pouco a pouco ainda que mastigando,
ela foi inclinando o corpo deitando a cabeça sobre meu ombro. Depois de
mastigar ela permaneceu de olhos fechados e sua respiração ficou mais
calma. Ela dormiu.
-
Acho melhor levá-la para cima, o sono deve ter ganhado. - comentou
mamãe em risos. Porém, Anna abriu os olhos lentamente e tomou em mãos o
waffle, dando uma mordida considerável na comida. É, mamãe falou antes
da hora.
- Porque vai dormir criança? - perguntou ela.
- Não posso.
- Porque não?
-
Comida... - respondeu Anna de boca cheia ainda preguiçosa. Depois de
mastigar, ela deitou a cabeça sobre meu ombro e bocejou antes de fechar
os olhos. Passado alguns segundos, pude sentir seu corpo relaxar sobre o
meu e assim notei que ela tinha finalmente dormido.
-
E o sono ganha mais uma vez! - cantarolou minha mãe brincalhona me
fazendo rir. Peguei minha namorada nos braços com certo cuidado para
que não acordasse, e andei lentamente até as escadas. Anna era o tipo de
garota que comia qualquer coisa que lhe estivesse a frente, mas no
entanto continuava leve como uma pena. Eu sabia que Anna não sofria de
nenhum distúrbio alimentar, já que ela gostava tanto de comida e era
raro vê-la sem estar comendo, e agradecia todos os dias por ela ser tão
comilona. Mas era estranho, ela era sempre tão leve. Preciso fazer
algumas anotações e estudar o caso mais tarde.
-
Bacon... - ouvi ela falar no meu ouvido enquanto abria a porta do
quarto com o pé. Eu queria rir por ela ainda pensar em comida, mesmo
estando com tanto sono, mas se o fizesse a derrubaria no chão. Andei até
a cama, deitando-a cuidadosamente sobre ela. Depois de deixá-la
confortável sobre o colchão, deitei ao seu lado deixando um beijo sobre
sua testa.
-
Eu quero comida... - cochichou ela ainda de olhos fechados. Já era mais
do que óbvio que ela estava sonhando com comida. Ri baixo fazendo
carinho em sua bochecha com o dedo polegar.
- Dorme anjo... - tentei não rir enquanto falava. Anna se virou abraçando meu corpo deixando sua cabeça sobre meu peito.
- Mas Juju, a comida... - continuou baixo. Quase a ponto de ser um sussurro.
- Com o que você está sonhando?
-
Que você é um Nacho gigante. - respondeu e eu ri mais uma vez. Talvez
ela achasse que estava falando com o Nacho gigante que eu me transformei
em seu sonho. Abracei seu corpo forte contra o meu, beijando seus
cabelos com doçura ainda ouvindo-a falar enquanto dormia. Aquilo não era
justo. Queriam tirá-la de mim.
- Devolve meu Bacon... - falava ela.
[...]
Bufei
irritado esperando Anna do lado de fora de sua casa. Ou de sua antiga
casa. Não sei ao certo. Eu não queria que ela viesse para cá. Já bastava
o que tinha ouvido quando foi visitá-la no hospital. Não me importava
de ter tomado as dores de Anna. Eu só queria protegê-la, mas parecia que
ela não queria isso. Fazia exatamente meia hora que ela estava lá
dentro, e por incrível que pareça não escutava gritos e xingamentos,
como da última vez que Anna saiu daqui para ir morar comigo até que,
seu quarto na casa da Ashley estivesse pronto. E isso me fazia pensar
que eu perderia minha amada em dois dias. Amanhã, seria a festa de
dezesseis anos conjunta de Ashley e Anna e ela iria para a casa da amiga
no mesmo dia. Queria tanto que Britney desistisse dessa ideia boba e
cruel. Mas apesar de ter esperanças, eu sabia que no fundo ela queria
apenas vingança. São nesses momentos que vejo o quanto as pessoas são
cruéis.
-
Vamos para casa da loira? Ainda temos tempo de ver um filme depois. -
ouvi a voz de Anna me tirar dos pesamentos bruscamente. Desencostei da
árvore, caminhando em sua direção abraçando-a de lado.
- Como foi lá dentro?
- Normal. Ela estava dormindo. Mike disse que em alguns dias ela poderá voltar a trabalhar e ter uma rotina normal, mas...
- Mas...
-
Ela ainda não quer me ver. Meu irmão falou que vem tentando explicar
que não tive nada haver com a morte de Alex, mas é difícil. Mas ele
disse que ainda sim não vai desistir de tentar esclarecer as coisas.
-
E como você está com tudo isso? Você sente a falta do seu pai? -
questionei cuidadoso, encarando seu rosto enquanto caminhávamos para a
casa de Ashley, que por acaso não era tão longe assim.
-Ele
era o meu pai, Justin. E mesmo tendo feito o que fez, ele era o meu pai
e eu o amava. Eu fiquei chateada com o que ele fez, mas eu sinto a
falta dele. Tenho falta de ter a família reunida, de fazer piquenique no
jardim aos domingos, sinto falta de jogar mostarda na roupa do meu
irmão e ele sair me perseguindo. Tenho até falta de correr e apertar as
campainhas dos vizinhos, como fazia quando era menor. Mas isso passou,
foi a muito tempo. Agora, tenho essa situação e não posso deixar isso
acabar. Eu preciso virar essa página na minha vida e tentar ser feliz. E
a festa de aniversário vai me ajudar nisso, vai ser o dia em que eu vou
ser uma nova pessoa... Menos a parte da comida é claro. - comentou ela
e ao final de sua frase me permitir rir.
-
Você sabia que hoje mais cedo você desceu as escadas falando de comida?
- perguntei mudando o rumo do assunto. Ela riu negando.
- Eu fiz isso? Ou você está brincando comigo? - perguntou ela o que me fez rir. Então ela não lembra? Hum... Interessante...
- Não, é verdade! Foi assim. Você desceu as escadas pedindo por comida, aí eu...
[...]
- Você viu o quarto que ela fez pra mim? Ficou lindo, Juju! Tão simples e fofo.
-
É, pensei que ela fosse mostrar uma bolha rosa no lugar de um quarto.
Mas ela se saiu bem. Apesar de não gostar da ideia de você sair daqui. -
comentei sentado a cama com um bico no rosto. Minha namorada, que antes
organizava sua mala riu sentando ao meu lado na cama. Beijou minha
bochecha e segurou minha mão olhando no mais fundo de meus olhos.
- Juju....
-
Eu não quero que vá embora. Quero que fique aqui comigo. Você sabe
quanta saudade vou sentir de te ver acordar todos os dias? Ou de como
você fica linda enquanto cozinha, ou como faz cara de bobinha enquanto
assiste os programas de culinária? Ou de como é psicótica e ciumenta com
sus nachos e outros docinhos?
- Justin...
-
Vou sentir falta até das calcinhas penduradas no Box do banheiro. -
comentei encarando seus olhos verdes, enquanto suas mãos acariciavam
meus cabelos.
- Mas a casa da Ashley é perto.
- Mas não é a mesma coisa.
-
Olha... Não precisa falar como se nunca mais fosse falar comigo, ou
como se no exato momento em que eu vou morar com ela vamos deixar de ser
namorados. Eu sei que a Ashley é louca, e sei que corro o risco de ter
um esmalte atirado na minha direção, ou até mesmo de acordar com o rosto
inteiro cor de rosa. Mas enquanto a mãe da loira existir eu vou estar
segura. Não precisa ficar com medo, eu não vou virar uma bolha rosa e
felpuda do dia pra noite... Eu acho... Vou rezar pra chover... - disse
ela e pude notar que em suas última palavras parecia pensativa. Será que
Ashley vai arremessar um esmalte rosa nela?
- O que acha de deixar as malas para depois? Vamos assistir um filme e esquecer que aquilo vai acontecer.
-
O que? Como assim "aquilo"? O que está querendo dizer? - perguntou ela e
precisei fazer força para não arregalar os olhos com a bobagem que
falei. Não deveria ter dito aquilo. Nervoso, sorri sem graça pensando em
algo verdadeiro e mentiroso ao mesmo tempo para falar a ela.
-
Esquecer que você vai ficar longe de mim para sempre. - ela riu
apertando minhas bochechas. Pois é, ao que parece não sou o único que
consegue criar uma mentirinha cabeluda e fazer alguém acreditar.
-
Mas quanto drama, seu bobo. - ela riu deixando um beijo em meu rosto.
Depois de deitar, abraçada a mim com a cabeça sobre meu ombro, liguei a
televisão com a ajuda do controle remoto. E ali ficamos em um clima
romântico entre beijos, risadas, abraços e palavras carinhosas. Talvez
essa fosse a última vez que estaria assim com ela. Anna me odiaria em
poucos dias. Eu sou um idiota!
0 comentários:
Postar um comentário