POV ANNA
-
Está pronta? – perguntava a loira do outro lado da porta. Suspirei
baixo encarando por mais uma vez meu reflexo no espelho. Sim eu me
sentia bonita. O vestido era bonito e simples. Eu estava bonita, mas
aquilo não parecia ser o suficiente. Era como se algo não estivesse
certo. Meu estômago revirava e meu coração batia rápido. Eu estava
nervosa, mas não parecia ser um nervosismo pré-festa. Isso sempre
acontecia antes de algo ruim se tornar realidade. Eu tinha medo dessas
sensações. Algo estava errado, e aquilo me assustava. Eu não queria ir a
festa, simplesmente não queria.
- Nossa, Anna como você está linda! Com essa maquiagem e esse vestido perfeito! O Juju vai babar quando te ver! Que linda você está amiga! – dizia Ashley orgulhosa,
assim que entrou no quarto. Ela também estava muito linda. Seu vestido
era rosa e longo. Seus cabelos estavam soltos e caindo em cascata por
seu ombro e por suas costas. Ela tinha um sorriso lindo nos lábios.
Sorriso de orgulho. Um sorriso que não pude corresponder. Ela pareceu
não ter notado que estava tensa... Ou eu falei cedo demais.
-
Está tudo bem? – perguntou ela curiosa. Suspirei caminhando até a cama,
sentando lentamente sobre ela. A loira permaneceu parada a minha frente
de braços cruzados.
- Eu não quero ir, Ashley. - respondi sincera. Ela arregalou os olhos sentando-se ao meu lado na cama.
- Mas porque não?
-
Porque eu não estou me sentindo bem. Eu sei que seus pais custaram para
achar esse lugar, mas é que eu tenho medo. Eu não sei ao certo o que é.
É que parece que vai acontecer alguma coisa ruim ali. Por mais que eu
tente esquecer eu não consigo. Ultimamente o Justin anda estranho.
Sempre calado e pensativo. E, além disso, e do que estou passando com a
minha mãe, tem a Britney...
- O que aquela vadia fez pra você?
-
Nada. E isso é o que está me deixando desconfiada. Na última semana ela
vem falando algumas coisas provocativas quando Justin e eu estamos
juntos. Eu tenho medo que ela tente algo. Ela ainda não se vingou do que
eu falei na aula de sociologia, e tenho certeza de que ela vai tentar
algo. É como se algo que vai me machucar estivesse naquela festa... Eu
sinto muito mais eu não vou. - respondi baixo. Ela me encarou por
segundos antes de levantar e voltar segundos depois com uma caixa nas
mãos. Era a minha caixinha de jóias.
De lá ela tirou dois brincos e os pôs em mim. Em seguida, pegou um
batom claro, passando-o sobre meus lábios. A olhei confusa. Mas o que
ela estava fazendo afinal?
-
Sim você vai. Acha que vou deixar a Britney fazer isso com você? Hoje é
seu dia, hoje é o nosso dia. Ela roubou meu namorado. Eu não quero que
ela roube sua felicidade também. Se não for por você, vá por mim. Mas
por favor, não a deixe mandar em você. - aconselhou docemente. Sorri
largo abraçando-a com força contra mim. O abraço dela tinha o dom de me
fazer erguer a cabeça e lutar contra as coisas que me deixavam para
baixo. Essa era uma da muitas razões que tinha para amá-la.
-
Minhas abelhas cor de rosa, andem depressa. A festa não pode começar
sem vocês. - cantarolou a mãe da loira. Partimos o abraço e sorrindo,
caminhamos em direção a porta do quarto. Ela tinha razão, não vou deixar
aquela vaca acabar com minha festa. Hoje era meu dia, e nada ia me
impedir de me divertir. Nada.
[...]
Sorri,
sendo girada pelo salão por Justin. Era a hora da valsa. Não poderia
estar mais feliz. Todas as atenções estavam voltadas para nós. E para
Ashley, claro. Que tinha como par, meu caro amigo Damon. Parecia um
sonho. Sentia-me uma verdadeira princesa naquele vestido azul longo. Era
ótimo dançar dessa maneira. Justin era um excelente dançarino, mesmo
que dizendo o contrário. Ele me conduzia com graça pela pista, enquanto a
música calma embalava aquele momento. Meus avós, que estavam na
platéia, haviam viajado, apenas para comparecer a minha festa. Não
conseguia acreditar que eles estavam aqui. Não conseguia acreditar que
eles saíram do Brasil apenas para vir a minha festa. Mesmo dançando, eu
podia ver meus tios, primos e primas ali. Até mesmo a Ananda,
a minha prima que eu não gostava. Ela era linda e roubava os meus
namorados. Bom, na verdade, ela 'roubava' os garotos que eu gostava. Mas
nos dias atuais poderia dizer que éramos amigas.
Do
lado dela, meus avós. Eles estavam ao lado de um rapaz com uma câmera,
era o fotógrafo responsável pela filmagem do evento. Mas isso não
significava que os velhinhos estivessem com suas máquinas em mãos,
registrando o momento. Girando nos braços de Justin, me sentia a garota
mais especial do mundo. Certo, a minha vida não era um mar de rosas. Na
verdade nunca foi. Mas aquele era o meu momento. Girando e dançando
graciosamente nos braços do meu namorado. Ele também não ficava para
trás. Estava tão bonito.
Usando um terno preto, com o cabelo aparado parecia um príncipe de
contos de fadas. Ele não usava os óculos. E assim seus olhos cor de mel
pareciam estar ainda mais claros, ainda mais brilhantes.
Damon também
não estava diferente. Ele era lindo naturalmente, mas, essa noite seus
olhos, seu par de oceanos azuis estavam mais claros e ainda mais
apaixonantes. Ashley parecia uma princesa. Na verdade ela era uma.
Parecia ainda mais bela hoje. Seu ex-namorado era um imbecil! Não soube o
que perdeu. Acompanhei os passos da loira e dos outros casais até a
valsa terminar. Há quanto tempo não sorria assim? Parecia uma
eternidade. Mas isso acaba hoje. Esta noite começa uma vida nova. Deixei
os braços sobre os ombros de Justin. Agora, as pessoas se juntaram a
nós na pista e a música era um tanto agitada. Mas eu ainda permanecia
abraçada a ele. Encarando seus olhos.
- Você está linda esta noite. – comentou acariciando minha cintura com o dedo indicador. Um elogio que me fez sorrir ainda mais.
-
Obrigada, você também está muito bonito. Esse será um dia inesquecível!
– comentei sorridente. O abracei ainda mais forte, deixando a cabeça na
curva de seu pescoço. Nós dançávamos abraçados, mas ele me apertou
ainda mais forte ao seu corpo. Sua barriga subia e descia e virei para
encará-lo. Olhei para trás, ao notar que ele encarava algo em cima do
meu ombro. Depois, tornei a encarar seu rosto.
- Juju, você ta bem? – perguntei preocupada. Será que ele está passando mal?
-
Estou bem anjo... – falou rápido, ainda olhando algo por cima do ombro.
Ele pareceu irritado de repente. Passei as mãos em sua testa, e ele
suava.
-
Claro que não está nada bem! Senta perto da porta de dá para o jardim.
Lá está mais livre e dá pra você respirar melhor. Vou buscar uma água
pra você. – rebati deixando um beijo em sua bochecha, saindo antes que
ele resolvesse protestar.
-
Uma água, por favor. – pedi educadamente para uma moça que trabalhava
na cozinha. Ela não demorou e me deu um copo muito cheio, e bem gelado.
Mesmo apressada, eu precisava andar devagar para não molhar o chão.
Espero que dê tempo de chegar lá, antes que o Justin piore.
-
Anna! Aí está você, estive te procurando por toda a festa. Você precisa
ver a nossa pilha de presentes. Está enorme... – dizia Ashley me
segurando pelo braço. Olhei para trás, procurando Justin.
- Mas o Juju...
-
Depois você fala com ele. Venha ver nossa pilha de presentes. –
respondeu ela ainda me arrastando. Socorro! Uma loira maluca está me
sequestrando!...
POV JUSTIN
Depois
que Anna foi embora, me permitir quase explodir. Ela não podia saber
que Britney estava aqui. Que eu vi ela passar ao longe por nós, enquanto
dançávamos. Para minha sorte, ela achava que estava doente. Mas o
problema era outro. Esse era o dia dela, e não seria essa loira falsa,
sim ela realmente é uma loira falsa, que estragaria toda a alegria da
minha namorada e da sua melhor amiga. E domado pela raiva, puxei a loira
que dançava alegremente com um garoto, até o quintal da casa. Minhas
mãos apertavam cada vez mais forte seus braços magros. Ela tinha um
sorriso debochado no rosto, como sempre. Porém esta noite ele parecia
ainda maior.
- Ficou feliz por me ver? – debochou. Apertei-a ainda mais.
- O que está fazendo aqui? Você não é bem vinda, vá embora!
-
Me largue, está machucando. – reclamou a loira. Bufei soltando-a,
passando as mãos pela testa. Estava suando demais. Nervoso demais.
Porque ela não me deixa em paz?
- Eu preciso estar aqui, não é mesmo? Já que não posso perder a cara de decepcionada da Anna. Vai ser incrível.
- Do que está falando?
-
Estou falando que resolvi adiantar a desgraça dela. Você vai terminar
com ela hoje. É só falar tudo o que está escrito no papel que lhe dei, e
a reputação da sua namorada estará salva.
-
O que? Você não pode fazer isso, está louca! Não na festa dela! Isso é
cruel! – falei fazendo gestos com as mãos a sua frente. Aquilo não
poderia estar acontecendo.
-
Claro que posso. Eu não tenho pena dela. Acha que o que fez foi
certo?Ela contou algo que não devia para o meu irmão. Ele quase se matou
de desgosto. Não olha mais para mim. Anna me tirou a púnica pessoa que
eu mais amava em toda vida. Você acha certo, isso? Acha mesmo, merda? –
gritou ela pondo o dedo no meu rosto.
-
Eu não acredito em você! Anna, do contrário de você jamais faria algo
para machucar alguém. Se ela falou algo para o seu irmão, algo que você
não queria que ele soubesse, deve ter achado que fez algo certo. Você é
suja, sua alma é pobre. Não merece o amor de ninguém.
-
Não me importa o que acha. Eu só quero que ela sabia, quero que ela
sinta a dor de perder alguém, como eu senti também. E você vai fazer o
que eu mandar. Caso contrário...
-
Caso contrário o que? Eu já sei que você quer mostrar essas malditas
fotos! – ela se virou para andar, mas parou exatamente quando fiz eu
comentário. Aquilo era cruel.
-
E não é só isso. Eu teria cuidado se fosse você. Não iria querer que
algo de muito ruim acontecesse com ela, não é mesmo? Vai que, ela pode
cair da escada, ou do terceiro andar da escola. Sabe... A sala de
gastronomia fica no andar mais alto. Ou quem sabe, ela caia do alto
quando estiver dançando na torcida? Hum?... – continuou debochando
ameaçadora. Tomado pela raiva, andei até ela segurando em seus braços
com firmeza. Eu sabia que não deveria tocar em uma mulher dessa maneira.
Não foi isso que minha mãe me ensinou. Era por tais momentos que
desejava não ter sido ensinado por uma mulher maravilhosa.
-
Não encoste em um fio de cabelo dela, entendeu? – chacoalhei Britney em
meus braços, batendo suas costas na árvore mais próxima. Ela gemeu de
dor, mas a raiva era tão grande que nada mais importava. Eu queria bater
nela, bater de verdade. Não um simples tapa. Mas não podia.
-
E não vou fazer isso com ela. Não hoje! Eu não vou! – disse lentamente
para que ela entendesse o que dizia. Entendesse a determinação em minha
voz. Em meus olhos, sentia que a qualquer momento poderia desabar.
Larguei Britney dando um passo para trás. Precisava sair dali e levar
Anna comigo. Se eu tivesse algum dinheiro, fugiria com ela para a casa
do meu pai, até que as coisas se acalmassem. Ou se fosse o caso, iria
para outro país.
-
Se você não fizer o que eu mandar, eu vou mostrar isso aqui na festa.
Vou mostrar pros avós dela. Para todo mundo! E vai ser ainda pior, pode
garantir.
- Você não vai fazer isso! – gritei me virando. Foi impossível deter a lágrima.
-
Eu costumo cumprir uma promessa. – deu de ombros debochada. Passei as
mãos pelos cabelos em desespero. Eu definitivamente estava dentro de um
pesadelo.
-
Além do mais, posso mostrar pra você que sou melhor do que ela. Não vou
apenas te dar popularidade, também vou te dar prazer e uma vida que
jamais imaginou. Nós só vamos ganhar com isso. Se você entrar no meu
jogo, vai ter a vida que sempre quis. – tentou Britney passando as mãos
em meu ombro. Jogando seu veneno como sempre. Aquilo me fez lembrar
todas as vezes que ela me humilhou na frente das pessoas. Tudo o que ela
fazia com as pessoas que eram tímidas e não conseguiam se enquadrar
veio em minha mente como um raio. Ela era cruel, sempre foi. Desde
pequena. Até mesmo na época em que era amiga de Anna. Britney sempre se
sentia feliz com a infelicidade dos outros. Isso acontecia comigo,
também. E agora ela queria machucar a pessoa que eu mais amo. E quem
teria de fazer aquilo seria eu. Simplesmente não era justo.
- Não se encoste a mim, tenho nojo de você.
- Você é gay? Recusando mulher!
-
Não. Eu não sou gay. A diferença é que eu amo a minha namorada. E sou
fiel a ela. Além de que, eu jamais olharia para você. Sua beleza não é
nada para mim. Ela consegue ser superada pela sua perversidade. Anna é
uma mulher!... Já você é só uma garotinha querendo vingança por algo que
aconteceu no passado. Se é que aconteceu. Porque acha que os rapazes só
ficam com você apenas por uma única noite? – essa foi a minha vez de
debochar ainda que magoado. Em troca, recebi um tapa no rosto. Mas
aquilo não era nada comparado ao que estaria por vir.
- Nunca mais fale comigo desse jeito. – esbravejou ela.
-
Juju?... Juju, onde você está? – ouvi a voz doce de Anna me chamar ao
longe. Sequei minhas lágrimas com rapidez, tentando a todo custo por um
sorriso no rosto.
-
Espero que curta a festa. Logo, logo nos veremos. – debochou pela
última vez, antes de perceber ela desaparecer do meu campo de visão.
Passei por mais uma vez, as mãos pelo rosto, tirando qualquer vestígio
de lágrima ou de tristeza aparente.
-
Juju, onde... Oh! Você está aí! Procurei você pela festa inteira...
Perdoe-me pela demora, Ashley me sequestrou para ver a pilha de
presentes. Veja a pulseira linda
que Damon me deu. – falava ela parando a minha frente. Ela repousou as
mãos em meus ombros e me permitir abraçar sua cintura. Ela parecia
feliz com o pequeno presente que ganhara do amigo. Amigo esse que eu não
gostava, mas de qualquer forma era um simples amigo para ela. Vi também
ela tirar de um envelope branco, algumas fotos. Não preciso comentar
que fiquei nervoso.
-
Eu tirei algumas fotos com as garotas lá dentro. Quer ver?... Minha
nossa, como eu sou descuidada, você está melhor? Esqueci o copo de água e
os analgésicos na cozinha, irei buscá-los... – falava, mas não permiti
que fosse embora. Continuei abraçando sua cintura, criando coragem onde
não havia para olhar nos seus olhos e mentir. Mas que grande...
-
Eu estou bem, meu anjo... Mostre algumas fotos, por favor. – rebati
ainda abraçado ao seu corpo. E por breves momentos pude me permitir rir
das fotos que ela mostrava. Havia algumas que tirei com ela, antes da
valsa. Outras, com o irmão, com os primos, as tias. Tinha também uma
foto em que ela estava ao lado de Clarice, e outra prima de olhos
incrivelmente azuis. Seu nome era Ananda, se não me engano. Porém meus
olhos só procuravam os de Anna em cada foto. E como não se era de se
esperar, ela tomava Milk Shake em uma das fotos, junto a Ashley e Lola. Bem... Se aquilo realmente for um Milk shake.
-
Eu quase morri com a Ash. Ela teve um ataque do coração quando viu que
lhe dei de presente, o kit de maquiagem e esmaltes que ela tanto queria.
Ela me abraçou tão forte, que quase colocava todos os doces que comi
até agora... Hey, você já viu a mesa de doces? É a minha predileta! Tem
tanta comida por aqui. Vou 'beliscando' tudo que posso, eu até peguei
uma bolsa e enchi de comida. Está guardada a salvo no quarto lá em
cima... Mike fica o tempo inteiro me supervisionando, para que eu não
coma toda comida da festa. Mas ele não sabe que não dá pra comer tudo de
uma vez. Se desse eu o faria, mas não tem como... Os outros têm de
comer também. Mas eu quero comer todos os doces! Você me ajuda? É bem
simples, você só vai precisar vigiar e avisar quando meu irmão estiver
por perto. – comentava rápido sem sequer parar para respirar. E mesmo
estando triste com o que aconteceria a seguir, me permitir rir da sua
loucura por comida. Ela realmente era única. Sentiria falta disso.
-
Abelha, Jujuba é à hora dos parabéns. Parem de fornicutar e venham
logo. – reclamou a loira da de longe, tendo consigo um olhar mortal.
Rimos caminhando de volta para o salão.
[...]
POV ANNA
Mastiguei
mais um docinho enquanto dançava com Justin. Porém dançávamos perto da
mesa dos doces. Não poderia perder essas belezinhas de vista. Não, eu
não sequestrei a bandeja de nachos. Eles que chamaram por mim. Eu atendi
o chamado deles. Qual é, não me olhem assim, não sou uma maníaca por
comida. Apenas gosto de comer... O tempo inteiro. Puxei Justin pelo
braço, abraçando seu corpo, dando abraçada a ele. Ele não sabia se ria
ou se dançava. Já eu, não sabia se dançava, ou se segurava uma taça com M&M dentro.
- Tem certeza de que vai dançar amor? E se derrubar os doces no chão? – perguntou entre risadas.
-
Não fale isso! Não posso pensar na hipótese de perder meus bebês...
Além do mais, vou encher a cara hoje. – rebati levando a taça a boca,
mastigando minhas maravilhosas bolinhas de chocolate. Vi ao longe, Damon
dançar alegre com Ashley. Era à hora da balada. Fazia exatas duas horas
que estávamos nessa parte da festa. Depois do bolo, Ash e eu mudamos de roupa. Algo mais curto e confortável.
- E essa sua loucura por comida está me deixando com ciúmes. – continuou ele.
-
Isso pode acabar se você se vestir de almôndega, ou de um nacho. Vai
ficar muito apertável... E comestível. – comentei e ele riu ao final.
Segurou minha mão, deixando a taça vazia sobre a mesa. Em seguida, me
conduziu entre a multidão.
-
Venha, eu quero te mostrar uma coisa. – dizia ele ainda andando.
Curiosa, o segui apesar de ainda sentir fome. Deveria ter escondido as
empadinhas e as jujubas... Mas porque ele está me levando para o quarto?
- O que estamos fazendo aqui? – perguntei curiosa, vendo apenas o abajur perto da porta ligado. Será que é o que estou pensando?
- Bom, como eu sei que você é exagerada e gosta de coisas grandes e...
-
Juju, eu sei que ele é grande e lindo, mas é que não quero tirar a
roupa agora, eu estou com fome. Deixei várias empadinhas a mercê de
pessoas cruéis, será de dá pra fazer isso outra hora? – perguntei com a
mão na barriga e ele riu. Riu mesmo, ele gargalhou. Mas qual foi à
graça, afinal? Depois a safada sou eu!
- Não amor, não é disso que estou falando. – dizia ele ainda rindo.
- Não é? Então o que é? – perguntei curiosa, dando um passo à frente.
-
Eu sei que você gosta de comer, e faz isso o tempo inteiro. Sei também
que não é um bom presente, afinal você vai devorá-lo. Mas achei que iria
ficar contente, então aqui está. Espero que goste. – disse ele. Justin
se aproximou da cama e puxou p lençol ao mesmo tempo em que ligava a
luz. De olhos arregalados e com um sorriso bobo no rosto corri até ele,
abraçando-o com força. Eu ouvia o barulho do saco enquanto eu o
abraçava. Deixei vários beijinhos sobre ele, ainda boba. Aquele era o
melhor presente do mundo inteiro. Comida!
-
VoCê é tão lindo, neném... Você quer se casar comigo? Hum?... – eu
perguntava, encarando o pacote de 5kg de puro e maravilhoso Doritos. Eu
ouvia a risada de Justin, enquanto eu levantava abraçada ao pacote. Que
por sua vez, era quase maior do que eu.
-
Você gostou? – perguntou Juju. Deixei o meu marido número dois, mas
conhecido como Doritos, na cama e corri para abraçá-lo. Não preciso
comentar que quase matei o garoto com beijos e abraços.
-
Você ainda pergunta? Esse é o melhor presente que já ganhei em toda
vida! Além de ser comida, é quase do meu tamanho! Posso dormir com ele
do meu lado e chamá-lo de marido.
- Fico feliz que tenha gostado, mas ainda não acabou. – sorriu e me permitir sorrir ainda mais.
-
E o que é? Uma almôndega gigante? Batata ondulada do tamanho da
cidade? Ou uma fonte de chocolate? – perguntei esperançosa juntando as
mãos. Vi Justin tirar do bolso uma caixinha pequena e preta. Será a
menor rosquinha do mundo?
-
É a menor rosquinha do mundo? – perguntei curiosa, encarando fixamente a
caixa. Depois, voltei a encarar meu namorado a espera de respostas. E
sim, estou com fome. Eu sou normal... Juro!
-
Eu sei o que vem acontecendo nesses últimos dias com você. Sei que está
chateada, e que seu coração ainda está quebrado. Eu sei também que sou
péssimo para dar presentes, e...
- Não é não. Você me deu um Doritos gigante! – afirmei balançando a cabeça. Ele riu apertando os lábios.
-
Pois é. Não é um presente caro, como o dos outros. Mas ele é perfeito,
porque expressa tudo que sinto por você... Então quero que saiba que te
amo... E feliz aniversário. – discursou estendendo a caixinha em minha
direção. Peguei-a, abrindo com rapidez. Sorri boba com o que vi e o pedi
para por no meu pulso. Era lindo. Não era comida, mas também era
perfeito.
- É uma pulseira linda. Obrigada Juju.
- Eu amo você. – disse ele roçando nossos narizes.
- Eu também te amo. – agradeci beijando-lhe os lábios. E assim ficamos por minutos. Estava tudo perfeito.
[...]
- Ashley você viu onde estão as empadinhas? – perguntei curiosa. Ela negou.
- Não, acho que acabaram. Deve ter mais delas na cozinha. – respondeu. Bufei. Isso é injusto! Roubaram minhas empadinhas! Bolas!
- Sabia que estão dizendo que a Britney está aqui? – perguntou a loira. Arregalei os olhos. Eu ouvi isso mesmo?
-
O que? Não, ela não está aqui. Não foi convidada, e não pode passar
pelos seguranças sem ter os convites. Deve ser só um boato bobo. Vou
procurar o Justin volto logo. – respondi simples deixando um beijo na
bochecha da loira. Andei entre a pista de dança, visivelmente lotada e
pelas mesas. Fui à cozinha e comi algumas empadinhas. Até que finalmente
encontrei Justin no jardim. Ele estava de costas para mim e de mãos nos
bolsos. O abracei por trás, beijando levemente seu pescoço.
- Oi...
- Oi.
- O que está fazendo aqui? Tem uma festa lá dentro. – comentei baixo.
-
Eu sei. Por isso estou aqui. – respondeu seco. Larguei seu corpo
andando até ficar a sua frente. Ele tinha o olhar firme, e diria triste
caso não tivesse sido grosso.
-
O que há? Você está tão grosso, você não é assim... Eu fiz algo errado?
– perguntei. A essa altura, meu coração pulsava a mil e todo o mau
pressentimento que senti antes de ir pra festa voltou. Ainda mais forte.
Ainda mais intenso.
- Então quer dizer que eu não posso simplesmente me afastar das pessoas e já acha que estou diferente? Qual é o seu problema?
- Porque você está falando assim comigo, Juju?
-
Para de me chamar de Juju! Para! Meu nome é Justin! Justin! Aprende a
falar direito, menina retardada! – gritou quase cuspindo no meu rosto.
Fechei os olhos dando um passo para trás. Uma lágrima molhou meu rosto
instantaneamente. Ele estava me assustando.
- Porque está fazendo isso? O que eu fiz pra você?
-
É exatamente isso! Você não fez nada! Você não me deu a popularidade
que eu queria. Vem cá, você acha que é fácil viver com pessoas te
humilhando diariamente?... As pessoas costumam guardar ódio. É o que
aconteceu comigo!
-
Porque você ta falando isso? – perguntei assustada e chorando. Justin
por sua vez, pegou meus braços com tanta firmeza que chegava a doer. Eu
não sabia o porquê de tudo aquilo. As palavras dele me machucavam como
facas. Era ainda pior do que isso. Não estava entendendo, eu não fiz
nada de mal com ele. Porque estava fazendo isso comigo? Arregalei meus
olhos assustada, quando ele me prensou contra uma árvore e olhou no
fundo dos meus olhos assustados e tristes.
-
Porque acha? Porque você é uma idiota! Eu cansei Anna Mel! Cansei! Você
é tão imbecil!... Como foi que achou, por algum momento, por menor que
seja, que eu amo você? Hum? Eu nunca gostei de você! Eu só estava sendo
seu namorado, apenas para ser popular. Mas isso não aconteceu, droga! –
gritou na última frase, me deixando ainda mais assustada. Ele apertava
cada vez mais meus braços, mas estava triste demais para sentir dor.
Estava com raiva demais, confusa demais.
-
Porque fez isso comigo? – perguntei olhando no fundo de seus olhos,
segurando firme, as lágrimas que queiram sair. Aquilo poderia ser
mentira. Poderia. Mas não era. Simplesmente não era.
-
Porque eu queria ser popular. A Britney sequer olhava para mim antes de
você... Mas agora, ela me quer. Ela sim eu sei que pode me dar fama,
pode me dar popularidade. E claro, muito prazer. Coisa que você não
conseguia fazer tão bem quanto ela... – falava cruelmente até que eu
tirasse suas mãos de meus braços e lhe acertasse uma tapa. Estava
sentindo raiva demais para pensar antes de fazer algo.
-
Eu pensei que fosse diferente... Seu miserável! – gritei empurrando com
força seu peito para longe de mim. Quando percebi estava esmurrando-lhe
o peito tentando descarregar toda raiva que sentia. Aquela não era eu.
Mas que se dane!
-
Está nervosa, queridinha? - a voz da pessoa mais miserável do mundo
perguntou atrás dele. Vi Justin andar até o lado da vagabunda e beijar
seus lábios. Mordi os lábios, na esperança de que nenhuma lágrima
molhasse meu rosto.
- Acho que ela não gostou de ouvir a verdade, querido. - comentou. Fechei as mãos em punho. Vadia.
- Se deu mal, Anna.
- Cala a boca Frad. – esbravejei para o imbecil parado ao lado do casal.
- Ela está estressadinha.
- Eu pensei que você fosse diferente, Justin!
-
Pensou errado, querida. Porque caso não saiba todo homem é igual. E
eles sempre ficam com as mais gostosas, as que podem dar tudo que eles
querem. Você não é uma delas... Eu sou!
- Vadia...
-
Lembra que eu disse que podia roubar seu namorado, Anna? Na aula de
Sociologia? Quando você me humilhou?... Pois é querida, o mundo dá
muitas voltas. Mas era tão bom saber que você estava com ele sem saber
que toda vez que transavam ele pensava em mim. Eu sou mulher pra ele,
Anna Mel. Não você. – dizia ela dando passos a frente até ficar com o
rosto perto do meu. Repeti o ato sem medo. Aí dela se encostasse um dedo
em mim.
-
Mas o que está acontecendo? O que você está fazendo aqui, Britney? Você
não é bem vinda, vá embora. – ouvi a voz de Ashley ao longe andando até
onde estávamos. Porém eu ainda olhava firme nos olhos da vaca a minha
frente.
-
Eu não sei se tenho pena de você, ou se tenho nojo. Afinal, para ter de
ficar com o namorado dos outros, é porque realmente tem problemas.
-
Ele nunca foi seu, não o ouviu dizer que nunca amou você? – rebateu
tocando na ferida mais profunda e dolorida. Machucando todas as outras
que havia no meu coração. Mas aquilo não ficaria assim. Não era atoa que
me chamava Anna Mel Montês.
-
Ah claro... Já sei por que está fazendo isso. Ainda não se conforma
pelo fato do seu irmão ter se afastado, não é? Primeiro, ele me amava e
você não gostava disso. Segundo, eu contei á ele que você matou uma
pessoa e escondeu o corpo. Matou um garoto nerd, porque estava nos
espiando da janela do seu quarto, escondido entre os arbustos. Eu falei
pra ele. Disse que você matou uma pessoa. Disse que picou o cadáver em
pedaços e enterrou. Porque eu disse que você tinha me contado que ele me
amava, coisa que ele implorou para que você não contasse. Eu não tinha
nada contra ele. Diferente de você, ele tinha caráter, coisa que você
nunca teve. No começo eu me culpei por ter contado, afinal eu achei que
ia te ajudar. Mas agora me dou conta de que fiz a coisa mais certa de
toda minha vida! Afinal, o fiz enxergar o quão podre você é. Uma pena é
que ele quase morreu naquele ‘acidente’. Por sua culpa. Mas fico feliz
que ele esteja bem, e longe de você. Porque o único sentimento que você
merece receber das pessoas é o nojo, a pena e o desprezo. – falei em
alto e bom tom para que todos ali presentes ficassem a par do segredo
que guardei durante anos.
Ela
tinha o rosto vermelho de raiva. Mas aquilo pouco importava. Frad tinha
os olhos arregalados, e Justin... Bom, eu não sabia como aquele canalha
estava depois de ouvir tudo aquilo. Só tive tempo de segurar as mãos
repugnantes da loira antes que ela me acertasse uma tapa no rosto. Mas
antes disso, apertei seu braço com toda a força que tinha. Meus olhos
estavam cheios de raiva e dor. Mas o ódio conseguia ser ainda mais
presente. Aquela não era apenas minha máscara de garota forte, mas
aquela era uma Anna Mel desconhecida. Com ódio e com o coração partido.
-
Se você ousar encostar um dedo sequer em mim, eu acabo com você aqui
mesmo. Eu juro que faço a mesma coisa que você fez com aquele garoto,
mas prometo fazer ainda pior. Sua assassina! – disse baixo o suficiente
para ser assustador. Quando larguei a mão da vagabunda, ela andou até
Justin beijando-o novamente.
-
Mas talvez agora, você sabia o que é perder alguém que se ama. Posso
até ser tudo o que esta dizendo, mas eu sempre tenho o que eu quero.
Você me tirou o que mais amava. Agora estou fazendo o mesmo com você.
-
Mas não se preocupe Britney. Eu não só vou apenas dar a volta por cima e
fazer você pagar. Afinal, namorados vem e vão. Se esse babaca que
chamava de namorado me usou para ser popular, coisa que fico feliz por
não ter acontecido, tenho certeza de que vou encontrar um homem que
realmente goste de mim. E com certeza vou encontrar. E não vai ser só
isso. Ainda vou mostrar quem é a melhor. Se for guerra que você quer é
guerra que você vai ter. – falei firme dando mais um passo a frente.
- Diga a essa ridícula quem é a melhor... Querido.
-
Vo-você é a melhor. – falou Justin. Mesmo gaguejando e olhando para
baixo ele respondeu a provocação. Feriu ainda mais meus sentimentos.
Aquilo só me fazia sentir nojo dele.
-
Já chega à festa de vocês acabou. Vão embora, ou irei chamar os
seguranças. – ameaçou Ashley, enquanto mantinha o olhar firme em Justin.
Quando levantou a cabeça e os olhares se cruzaram, a vontade de chorar
foi ainda mais forte e uma lágrima caiu. Limpei-a logo em seguida,
enquanto assistia-os caminharem debochadamente na direção da saída da
parte de trás da casa. E logo a armadura da garota forte, caiu. E lá
estava a verdadeira Anna Mel Montês. De coração partido novamente. E
enquanto Ashley me abraçava com carinho, deixei o choro e a tristeza
tomarem conta de mim.
Sabe
como é se sentir, dilacerada por dentro? Sabe como é sentir uma dor que
nada nem ninguém pode curar? Uma ferida que ninguém pode cicatrizar? Eu
sei. E infelizmente sei como é terrível sentir essa dor. Sabe quando
dizem para ter cuidado com o que se fala? Parece que as pessoas não
percebem o quanto as palavras machucam. Muitas vezes até mais do que uma
ferida externa que é rapidamente curada com medicamentos e cuidados
médicos. Ouvir aquilo não era fácil. Eles eram especiais para mim e
machucaram meu coração. De uma maneira que nunca imaginei. As pessoas
que eu amava, que prometeram estar comigo para o que der e vier. A
pessoa que disse que me amava, que me seria fiel e confidente. A pessoa
em que confiei cegamente e dediquei todo meu amor. Era tudo uma mentira.
Uma completa farça. Prometeu nunca me abandonar, mas no momento mais
triste de minha vida foi embora fazendo um estrago ainda maior em meu
coração, em meus sentimentos.
Porque
ele fez isso comigo? Porque foi tão cruel, tão mal? Porque se
aproveitou de mim? Eu estava frágil. Precisava de alguém para desabafar,
um ombro amigo. Eu confiei em você. Mas jogou tudo fora. Jogou meus
sentimentos na lama como se não valessem nada. Sinto-me usada, jogada
fora. Já não bastava tudo o que estava passando? Já não bastava o que
ouvir minha própria mãe dizer? Já não bastavam, as palavras duras e
cruéis vindas da mulher que me trouxe ao mundo? Ouvir aquilo era pior do
que qualquer coisa. Eu só queria que você estivesse comigo até o fim.
Você prometeu. Mas você não cumpriu. Está satisfeito, agora? Agora que
vê minhas lágrimas escondidas, guardadas a sete chaves por anos a fio,
molharem grosseiramente meu rosto? Espero que esteja feliz com sua
'amiguinha' e que tenha o que tanto deseja. Mas saiba de uma coisa. Você
destruiu tudo que tinha de bom. Você partiu meu coração.
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