30 de mar. de 2015

My Dear Nerd - Heart by Heart - Capítulo 23 - Luto

POV JUSTIN
 Na hora do jantar, duas semanas depois do enterro do avô de Mike e Anna, o silêncio entre os ocupantes da mesa já era esperado. Os irmãos estavam sentados lado a lado e falam apenas quando era necessário. O único som alegre era o dos cães que andavam de um lado pro outro pela casa, como se não tivessem a mínima ideia do que estava acontecendo. Eu tinha a estranha sensação de que Anna estava me evitando. Era como se não quisesse olhar pra mim. Ouvi uma conversa entre Damon e Ashley de que a baixinha sempre se fechava em seu mundo quando uma perda desse tipo acontecia. E que não sabia o que fazer pra ajudar, porque Anna Mel recusava ajuda. Mas ela precisava. E esse orgulho só piorava as coisas.
  O Spring Break se aproximava, e em uma semana, estaríamos viajando para Miami, onde iríamos passar essas férias. Nesse meio tempo, houve festas na faculdade e teria uma dessas amanhã a noite. Quando terminou, ela saiu da mesa e foi pro quarto com Amora seguindo a dona de perto. Foi quando Mike também se retirou, que a tensão entre nós acabou. Ashley suspirou tão profundamente que parecia que tinha ficado muito tempo sem respirar. Um detalhe é que a morena baixinha não cozinhava mais. E nunca mais a vi quando passava minhas noites em claro e ficava do lado de fora, vendo as estrelas. E senti falta daquilo porque desde aquele dia que ela quase me acertou a cabeça, nos víamos quase sempre durante as madrugadas de insônia.
- Não aguento mais ver esses dois tão tristonhos assim! Parece que tá morrendo um atrás do outro da família deles, meu Deus! - desabafou a loira, deixando o prato vazio na mesa. - Sinceramente não sei como estão aguentando.
- Não estão aguentando. - corrigiu Caitlin. E era verdade. Nenhum dos dois estava. Porém Mike estava um pouco melhor do que a irmã. - Temos que fazer alguma pra ela se distrair um pouco. Sei lá, tentar levar ela para a festa de amanhã. - sugeriu ela.
- Duvido que queira ir, Cait. - respondeu a loira, frustrada.
- Talvez o melhor a fazer seja deixar os dois passarem pelo luto sozinhos, como querem. Quando pedirem ajuda, vamos estar aqui. Como sempre estivemos. - o que Damon acabou de falar foi a coisa mais sensata que já ouvi depois dessas últimas semanas.
 Ouçam: Taylor Swift - Safe and Sound
 Horas depois, todos estavam nas suas camas,assim como eu. Mas eu não conseguia dormir. Bem diferente de Collin, que parecia estar do décimo sonho. Desisti da minha tentativa ridícula de dormir e levantei da cama. Pensei em pôr os óculos, mas acabei desistindo e fui sem eles até o quarto dela. Abri a porta, e pela luz baixa do abajur, vi que ela estava acordada. Deitada de lado na cama, o rosto de na direção da porta, abraçada a cadelinha, que obviamente era uma companhia melhor do que um urso de pelúcia. Mas ainda sim, não disse nada quando me viu.
 Fechei a porta, agora atrás de mim, me deitei ao lado dela, e ficamos assim por alguns minutos.
- Oi. - finalmente disse, baixinho. Ela só acenou devagar com a cabeça. - Sem dormir de novo? Já passam das duas da manhã, sabia? - minha tentativa de bronca "barra" piada não deu certo, obviamente. - Sinto muito por seu avô.
- Eu também.
- Quero te mostrar uma coisa. - levantei devagar da cama e sai do quarto.
  Ela me seguiu devagar, muitos passos atrás de mim. Cheguei ao jardim atrás da casa e deitei na grama. Durante todo esse tempo não olhei para trás, não descaradamente, é claro. Anna deitou do meu lado, alguns centímetros de distância. Não estava com Amora.
- Hoje dá pra ver as estrelas. Olha. - eu falava baixo, mas sabia que ela podia me ouvir. E ela olhou pra cima. E fiz o mesmo, observando o céu estrelado que se estendia em sua vastidão infinita a cima de nós. - Acho que seu avô está em algum lugar por ai, perto daquelas outras duas, acho. Quem sabe até toda a sua família que morreu.  - comentei, me referindo a um conjunto de estrelas.
- Não tenho cinco anos, Justin.
- Desculpe, eu só queria...
- Ajudaria se parasse de me tratar como criança. Sei que nenhum deles está lá. - foi firme e direta. Acatei seu pedido. Parei de tratá-la como criança.
- Você precisa parar com isso. Se trancar no seu próprio mundinho e esquecer de viver. Ignorar as pessoas e agir como se nada mais fosse importante. Ashley está ficando perdida, e as vezes a ouço chorar, mas graças a Deus, Damon sempre está lá para confortá-la. Você está magoando-a.
- Estou magoando a loira? Vou te dar uma dica: meu avô morreu, Justin.
- E isso te dá o direito de...
- Me dá o completo direito. Sei que está me comparando com meu irmão, mas a forma como lidamos com a perda é totalmente diferente. E ela vai superar.
- Não pode ser assim, Anna.
- Seria muito melhor se parasse de me tratar como criança, parar de ter pena de mim. Só me deixem em paz. Isso não é pedir muito.
- Então nos diga como lidar com o fato de você simplesmente deixar de viver? Eu até te daria apoio, mas acontece que me importo com você, e me incomoda te ver desse jeito. E se quer saber mesmo, está sendo idiota por afastar as pessoas de você.
  Como se tudo estivesse cooperando para tornar a situação ainda mais ruim, as nuvens começaram a aparecer, escondendo as estrelas e dando claros sinais de que logo iria chover. Ela não me respondeu de imediato, e fiquei muito mal com a sensação de tê-la magoado ainda mais do que já estava magoada. Mas era a verdade. E ela também sabia disso, apesar de permanecer no erro.
- Sonho com eles a noite. - contou ela, baixinho. - Antes, era esporadicamente, mas agora, não só sonho com eles, mas também é como se eu revivesse o momento de suas mortes até mesmo quando estou acordada. Até as que não estive presente, como o suicídio do meu pai. O tempo todo.  Só consigo dormir se tomar pílulas para dormir, mas não vou ficar dependente de remédios.
- Quer contar sobre a morte dessas pessoas? Pode aliviar, desabafar sobre isso.
  Anna deu um suspiro cansado, como quem está quase desistindo de lutar. Uma chuva fininha começou, e o céu agora estava negro, como se estivesse sentindo a dor dela.
- É muito difícil pra mim falar sobre isso. Não sei se consigo. E não quero tentar. - ela olhou pra mim, e vi seus lindos olhos verdes marejados. Aquilo doeu em mim. - Não sei explicar o quanto dói, Justin. Dói tanto que só consigo me focar na dor que sinto e no quanto me sinto sozinha e perdida agora.
- A única coisa que quero é ajudar. Não sei porque, mas odeio ver você assim.
- Quer ajudar? Então, por favor, nunca mais me julgue. Você não faz ideia do que é estar se recuperando de uma perda e vir outra pra te por no chão de novo. Você não faz ideia de nada. Quando eu não aguentar mais, pedirei ajuda. Prometo. - a voz dela era tão baixinha, enquanto a chuva ficava mais forte, mas nenhum dos dois se moveu para sair dali. Ela fechou os olhos, a cabeça virada para cima. Quando peguei sua mão, sua pele estava fria e Anna tremeu levemente ao meu toque.
- Não fique mais ausente. Nós precisamos de você. Eu preciso de você.
Parem a música
[...]
 Foi um dia divertido. A aula tinha sido maravilhosa e ao mesmo tempo muito engraçada. Minha amiga Sara é claro, que contribuiu para isso. Me fez até esquecer da madrugada de hoje com Anna. Uma das muitas qualidades de Sara era fazer qualquer um rir mesmo não querendo. Mas antes que diga, Anna Mel e Mike são uma exceção. Saímos de braços dados da sala, rindo feito idiotas. Um garoto que passou por nós, piscou para ela, que como sempre fez piada quando ele estava longe.
- Sou tão gata assim?
- Você é gata sim, mas está andando demais com a Ashley. - comentei rindo. Esse era o único dia que todos nós tínhamos o mesmo tempo livre, por isso foi fácil ver uma roda de jovens cheios de livros espalhados e conversando muito. Mike estava concentrado em seu livro de psicologia, enquanto Anna arrancava o capim do chão. John também estava lá, e nos sentamos perto dele.
- Acho que Sara está ficando como você, loira. Só falta pintar o cabelo. - comentei e Ashley ficou muito contente com aquilo.
- Jura? Se quiser, eu te ajudo a encontrar uma coloração que vai ficar super lindo em você e vai parecer bem natural. - começou ela, animada - Vou tornar você minha fiel discípula.
- Porque tenho que ser fiel? - perguntou e todos na roda riram. Tá não foi todos.
- Estou te oferecendo a oportunidade de ser minha companheira de beleza e você faz piada? Você não merece tal honraria! - a loira jogou uma mecha de cabelo para trás, meio ofendida meio rindo.
   A conversa seguiu esse ritmo feliz por um bom tempo, mas não por tempo suficiente. Porque Emília chegou mais uma vez para estragar a pequena harmonia que se instalou ali, Ela fez piadas de mal gosto, que ignoramos, mas tudo mudou quando ela passou a se referir particularmente para Mike e Anna. O estopim da briga foi Emília ter zombado da morte do Sr. Montês e Anna partiu tão rápido pra cima da outra que ninguém teve tempo de pensar em segurá-la. Um dos garotos tentou tirá-la de cima de Emília, mas Mike interviu, dando-lhe um soco que o fez cair no chão. Ele estava furioso.
- Nunca mais encoste na minha irmã! - segurou-o pela gola da camisa e bateu de novo até tirar sangue do garoto. Do outro lado, Anna desferiu o último soco na já desmaiada Emília. Os irmãos ficaram lado a lado, enquanto o resto de nós ainda estava estupefato com o que tinha acontecido.
- Vamos sair daqui. - disse ele.
- Sei pra onde. - ela respondeu. Eles saíram.
 Fiquei perplexo por saber pra onde exatamente Anna o levaria.
 Os segui minutos depois.
[...]
 Eles estavam enfaixando a mão um do outro, mas não falavam muito. Era aquele mesmo pub na praia que ela me levou antes do pior acontecer. Fiquei numa mesinha distante deles, e a distância me impedia de ouvir o que diziam. Arrumei o óculos observando Mike beijar gentilmente a testa da irmã e ir embora. Ela ficou ali, olhando pro nada, a xícara de chocolate quente intocada. Resolvi me aproximar dela.
- É feio seguir as pessoas, Justin. - disse,assim que me sentei de frente para ela, mas não parecia zangada.
- Não segui. Quando cheguei vocês já estavam aqui.
- Como sabia que estava aqui? - quis saber, e no fundo, nem eu mesmo sabia como aquele lugar me parecia tão óbvio, mesmo não sendo tão óbvio assim. Além do mais, ninguém a encontraria aqui além de mim.
- Não sei, eu simplesmente soube.
- Está começando a se lembrar, então. Isso é bom.
- Esse lugar tem alguma importância pra nós? Tivemos momentos importantes aqui? - perguntei, curioso. Ela acenou com a cabeça.
- Sim, tivemos momentos aqui. Mas com certeza, o Justin que eu conhecia, sabia o suficiente sobre mim para me achar aqui. Sem nem mesmo precisar pensar. - sorri ao saber daquilo. Era um bom sinal, afinal. Aquilo me deixou mais esperançoso. Por que não precisei pensar pra onde ela o levaria, eu só sabia. - Veio aqui me dar uma bronca por hoje cedo? - perguntou, tomando pela primeira vez, um gole de seu chocolate quente.
- Não. Não posso dizer que achei certo o que fez, mas entendo porque fez. E me colocando em seu lugar, acho que faria a mesma coisa.
- Acha?
- É. Eu me certificaria de que ela tivesse o suficiente para não esquecer de mim. Mas você fez um bom trabalho. - ela quase riu, mas não passou disso.
- Acho que gosto mais de você agora. - eu ri, arrumando de novo aquele bendito óculo.
- Mas não quer dizer que estou incentivando você a repetir aquilo.
- Sabe aquilo que dizem de cantar vitória antes do tempo? Pois é. - ri de novo, mesmo sabendo que não era intenção dela fazer piada. - Mesmo perdendo a memória, não deixa essa coisa de ser você.
- É uma característica minha. - pisquei pra ela,
- Acha que vou ser expulsa?
- Creio que nesse caso, uma suspensão para ambas as partes já é o suficiente. - expliquei pra ela.
- Realmente preciso de um tempo longe daquele lugar, de qualquer maneira.Ver aquela garota me enoja profundamente. - comentou Anna. Pensei na festa de hoje a noite, e que ela precisava de uma distração momentânea. E também porque queria levá-la.
- Quer ir a festa de hoje comigo?

24 de mar. de 2015

My Dear Nerd - Heart by Heart - Capítulo 22 - Sobre Anjos

 POV ANNA
   Acordei sentindo alguém me cutucar o meu ombro. Meu corpo estava dolorido devido a cadeira do hospital que, mesmo acolchoada, era desconfortável. Olhei de Sara para meu avô, dormindo no leito, com vários equipamentos ligados a ele por agulhas, para levar soro para ele e essas coisas.
- Eu trouxe isso pra você. - diz ela, estendendo um saco pra mim. Era um saco de papel pra viagem, e me perguntei como ela voltou da lanchonete tão rápido.
- Rosquinhas e cappuccino?
- Foi a primeira coisa que pensei. Não é nada nutritivo, eu sei, mas vai manter seu estômago cheio até poder comer algo de verdade. - ela sorriu, sentando na cadeira ao meu lado. Meu irmão estava dormindo em uma cadeira parecia com a minha na outra ponta da sala. Sara foi até ele, o acordou, e lhe entregou um outro saco que estava em suas mãos. O último, era para ela.
- Obrigada. - agradeci quando ela voltou para o meu lado.
   Meu avô, Victor Montês, teve uma "crise do câncer". Mike e eu estávamos com ele quando aconteceu. Já no hospital, o doutor disse que nada se podia fazer por ele além de dar remédios que reduzissem sua dor. E disse também que ele não tinha muito tempo. Fiquei me perguntando como ele conseguiu o visto para viajar, estando tão doente. Como minha tia permitiu isso. A resposta veio segundos depois. Era uma despedida.
   A crise dele foi no dia seguinte a minha saída com Justin. Estou aqui desde a tarde de ontem.
- Cadê os outros? - perguntou ela.
- Ashley e Cait foram pra casa pra pegar algumas coisas pra mim. Os rapazes foram ajudar e parece que Justin e John irão dar o banho nos cães hoje. - expliquei.
- Prevejo que os rapazes ficarão mais molhados que os cães. - comentou. Mesmo naquela situação, me deixei rir baixinho daquilo. Eu tinha terminado minha rosquinha quando meus amigos chegaram. Vinham em silêncio como o médico tinha recomendado. John e Justin pareciam exaustos e os imaginei dando banho em nossos cinco cachorros.
- Oi abelhuda. - a loira me deu um abraço apertado. - O vovô abelhudo acordou?
- Ainda não. - Sara cedeu seu lugar ao meu lado pra Ashley sentar. Mike levantou e sentou do outro lado da loira. Ela segurou nossas mãos e deu um sorriso.
- Ele vai ficar bem, vão ver só! Vai viver mais do que a gente. Irá ver todos os nossos bisnetos fabulosos.
- O estado dele é terminal, loira. Agradeço que queira ajudar, mas mentir pra nós e pra si mesma não vai ajudar. - respondeu meu irmão. Ele não foi grosso, só foi... sincero. Não havia mais esperança na situação dele. E foi por isso que fiquei sem resposta.
- Vocês precisam de esperanças...
- Mike está certo, Damon. Qualquer um aqui sabe que isso é perda de tempo. - interrompi, levantando da cadeira.
- Pra onde você vai, Anna? Eu trouxe jogos!
- Vou tomar um ar, Ashley. Volto logo. - beijei sua testa e sai antes que alguém pudesse dizer alguma coisa.
  Caminhei até encontrar uma janela bem grande, onde pude ver o sol se por. Era tão lindo. Pela milésima vez no dia, me perguntei se meu avô veria um desses antes de morrer.
- Essa é minha parte favorita do dia.
- O que você está fazendo aqui, Justin? - ele estava ao meu lado agora. Mas levou alguns segundos pra responder.
- Você precisa de apoio. De um ombro amigo. De alguém que se importe com você.
- Se importa comigo?
- Também fiquei assustado com a rapidez com que você se tornou alguém com quem me importo. Não sei como explicar, só sei que odeio te ver desse jeito.
- Que "jeito"?
- Sem esperanças. Triste.
- Esse é o tipo de coisa que não da pra evitar em uma situação como essas.
- Nunca passei por uma perda como essas, pelo menos não que me lembre, mas, você nunca vai ficar sozinha. Tem seu irmão, sua tia, seus amigos. Tem a mim. - ele segurou minhas mãos entre as dele. - Você tem que ser forte.
- É o que tento fazer desde que meu pai se matou, Justin. Desde que minha avó morreu, minha prima quase me matou, e minha mãe morreu num acidente de carro. - ele parecia surpreso com aquilo, mas não fiquei surpresa por estar triste por ele não lembrar disso.
  Mas fiquei surpresa com o abraço. Porém não o recusei. Aquilo me fazia sentir tão protegida e amada, que desejei ficar assim pra sempre. Era tão bom. Mas tivemos de nos separar e voltar para o quarto de hospital. Já era noite quando abri a porta. Ele tinha acordado, e o médico parecia frustrado. Meu irmão estava ao lado do vovô, e não demorei muito pra ficar perto deles.
- Ele quer sair daqui. - disse Mike.
- Estou tentando explicar pro seu avô, Anna, que sair daqui a essa altura é perigoso. Ele pode morrer a qualquer momento e sem os remédios para dor...
- Vou morrer estando ou não estando aqui. Esses remédios me fazem dormir o tempo inteiro e não viajei de tão longe para morrer nesse hospital, sem ver meus netos antes de partir. Quero estar com minha família. Ou não posso ter o direito de morrer em paz? - Vovô parecia aborrecido e um tanto desesperado.
   Entendi o lado do doutor. Ele só estava tentando ser um bom profissional, tentando mantê-lo sem dor, já que mais nada podia ser feito. Mas também entendi meu avô. Era o último pedido dele. Morrer em tranquilidade, ao lado da família. Por isso foi ver Clarice, a prima que tentou contra minha vida. Por isso ele está aqui. Por isso minha tia está vindo pra cá. Ele queria uma despedida. E ninguém tiraria isso dele. Mike parecia ter compreendido isso também, porque o que dissemos juntos, foi a coisa mais difícil e ao mesmo tempo certa de se fazer.
- Ele sairá daqui.
[...] 
 Ouçam Not About Angels - Birdy
  Os problemas burocráticos foram resolvidos com rapidez. Dois dias depois, meu avô saia do hospital para o ar da manhã de sexta, sentado em sua cadeira de rodas, que era empurrada por Mike. Vovô parecia aliviado por poder ver o dia novamente. Minha tia chegou dois dias atrás com seu marido e uma barriga de grávida bem visível e redonda.
  Foi no carro dela que o colocamos e seguimos caminho em família. Meus amigos estavam no carro de trás. Foi ali também que ele, vovô, decidiu parar na praia para fazermos um piquenique. O que foi fácil, já que Ashley tinha jogos, os garotos uma bola de futebol americano e Sara tinha comida.
  O levamos de cadeira de rodas até a areia, e pusemos a toalha de piquenique de baixo da sombra de alguns coqueiros. Já sentado, pusemos as coisas ali. Era um circulo grande e risonho, o que formamos ali. Piadas, momentos constrangedores e loirices eram ditas. Apoiei a cabeça no ombro do meu velhinho e rindo dos meus amigos. John, Damon, Justin e Mike estavam empolgados com as dicas do marido da minha tia de como "pegar" mulher. Damon levou um puxão de orelha, é claro. Mas os outros três riam bastante.
   Então foi decidido que todo mundo ia jogar futebol americano. Ficamos apenas Mike, vovô e minha tia, por estar grávida, apesar que ela não queria sair de perto dele. Eu suspeitava que eles já tinham conversado, e eu sabia que ele sentia muito por não ver seu outro neto nascer. Me endireitei e vovô apoiou sua cabeça no ombro do meu irmão, seguido de um suspiro. Queria muito saber se o remédio para a dor que ele tomou antes de sair do hospital ainda fazia efeito. Ele pegou minha mão e fez um carinho.
- Sou o avô e o pai mais orgulhoso e sortudo do mundo. E eu os amo. Vocês são a família que eu pedi a Deus, e não poderia querer nada melhor do que isso. Até porque não existe e nem jamais existirá algo melhor que vocês. Sejam fortes, fiquem unidos. E continuem sendo essas pessoas maravilhosas que são. 
- Nós também te amamos. Amamos muito. - respondemos Mike, eu e tia Alice, fazendo o possível para não chorar, para ser forte, como ele pediu. Ele respondeu dois minutos depois, ainda com a cabeça apoiada no ombro do meu irmão, e com uma voz tão baixinha que era quase um sussurro.
- Minha família querida.
  O aperto de mão afrouxou.
  Em seguida o silêncio.
  E ele morreu com a cabeça apoiada no ombro do meu irmão.

12 de mar. de 2015

My Dear Nerd - Heart by Heart - Capítulo 21 - Wild Heart

POV ANNA
  Fiquei ali, sentada ao lado do meu avô, contando sobre o que tinha acontecido nos últimos dias. E também nos últimos anos. Ele era a única pessoa que a quem eu admitia, sem vergonha nenhuma, que chorava. Disse como chorei pela morte da vovô, a esposa dele, e como chorei pela morte dos meus pais. Ele logo entendeu que o motivo de não chorar na frente de ninguém era simplesmente porque eu odiava olhares de pena que as pessoas faziam, mesmo involuntariamente. E ele me entendeu e não julgou minha atitude.
  Meu avô era a pessoa mais sábia que já conheci, e era maravilhoso conversar com ele. Um grande homem. Me deu conselhos que só uma pessoa como ele poderia dar.
- Seja forte. Pelas pessoas que ama e pelas que já se foram. Eles nunca terão ido embora enquanto os tiver guardados aqui. - ele apontou para meu coração e sorriu. - Tenho muito orgulho de você. E sei que seus pais também tinham.
- Sente falta delas? - perguntei, me referindo a mamãe e vovó.
- Muito mais do que imagina. - confirmou, suspirando em seguida. - Quando sua avó se foi, achei que minha vida tinha acabado também.
- Mas se mante firme.
- Porque eu sabia que minha querida gostaria que eu fosse firme por sua mãe e sua tia. E apesar da dor ainda estar comigo, a tenho em meu coração e memória. E ela de fato não foi realmente embora. - quando ele diz 'minha querida' está se referindo a minha avó.
- Não sou tão forte como o senhor.
- A dor é inevitável. Faz parte da vida. Todos vamos nos machucar em algum momento. Você só não pode viver uma dor sem fim.
- Está falando isso porque o senhor pode ir embora a qualquer momento? - pergunto, mas evito a palavra 'morte'.
- Todos nós podemos morrer a qualquer momento. - ele sorri gentilmente e beija minha bochecha. - Tenho que ir agora, querida. Seu irmão quer me mostrar alguma coisa e estou desconfiando que vai aprontar alguma. - rimos e ele vai embora.
  Me deito no jardim de casa, observando o entardecer daquela noite de terça feira. Repasso algumas vezes minha conversa com meu avô e percebo que tem razão. E do quanto estou feliz por estar aqui, por estar vivo. No meio disso, sinto alguém deitando do meu lado. Reconheço a voz imediatamente.
- Um pôr-do-sol lindo. - diz ele.
- Verdade.
- Vi seu avô, faz uns dois minutos. - comenta. Ouço o barulho bem conhecido do pacote de Doritos sendo aberto. Mas ainda assim, não olho pra Justin. - Ele é um senhor bem simpático.
- Ele é maravilhoso. - respondo.
- Você quer? - Justin estende o saco pra mim, e obviamente não recuso. Deito de lado na grama, e ficamos frente à frente. - Como está?
- Bem. - estranho a pergunta que foi feita com cautela.
- Ashley me contou que seu avô está muito doente. E fiquei preocupado. - preciso lembrar de chutar o traseiro da loira por ser tão tagarela.
- Estou bem. - é tudo que respondo. Não gosto de falar sobre esse assunto com ninguém. - E você? Já conseguiu lembrar de algo?
- Está exatamente como antes. Mas continuo tentando. Meu quarto tem muitas coisas recheadas informações importantes e estou processando todas e as ponto em ordem cronológica. Talvez isso possa ajudar.
- Pode chamar se precisar de uma mãozinha. - me ofereço e ele sorri. Ficamos alguns minutos ali. Apenas deitados, curtindo a guloseima.
- Quer sair comigo? - pergunta tão de repente que levo alguns segundos para registrar aquela informação. - Bem, pensei que a gente podia ir pra o lugar do nosso primeiro encontro. Pode ajudar.
- Nosso primeiro encontro aconteceu em outro país.
- Então podemos ir pro primeiro lugar que fomos quando chegamos aqui. Se você quiser, é claro.
- Me espera trocar de roupa? - pergunto, tentando não demonstrar o quanto estou feliz com a oferta. Ele concorda, sorridente.
- Claro. Te encontro as sete n fim da escada?
- Estarei lá.
[...]
- É um encontro. - cantarola a loira, arrumando meu cabelo.
- Não, não é. Ele só quer tentar lembrar de alguma coisa.
- Que parte do 'estou sempre certa' que você não entendeu? - pergunta, mas continua risonha. Caitlin sai do meu closet com as roupas e os sapatos. Ashley fica animada, mas me espanto com a produção. - Boa escolha, florzona. Amei a combinação.
- Ah, obrigada. - Cait agradece, toda orgulhosa.
- Gente, é sério, não exagera. - falei, mesmo sabendo que elas não ouviriam.
- Relaxa. Só confia na gente. - respondeu Caitlin.
- Isso mesmo. - continuou a loira. - Agora fica quieta que eu preciso terminar o seu cabelo e dar os retoques finais. - ela virou minha cabeça de frente para o espelho, e não ofereci resistência. De fato, quando elas terminaram de me vestir, senti que estava muito bonita. E fiquei feliz por ter confiado nelas. Peguei minha bolsa e a pus no ombro e desci as escadas. Tentei não ficar olhando muito pra Justin; ele estava muito lindo. Muito mesmo. Ele sorriu pra mim e estendeu a mão pra me ajudar a descer os últimos degraus, mesmo aquilo não sendo necessário.
- Você está muito bonita. - foi a primeira coisa que ele disse.
- Digo o mesmo pra você. - sorri de volta. - Está pronto para irmos? - perguntei.
   Depois que ele concordou, nós saímos. Como todos os meus amigos e meu irmão achavam que aquilo era um encontro, pudemos ficar com o carro esta noite. O caminho até o restaurante perto da praia foi relativamente curto, acho que devido ao fato de ele não parar de fazer perguntas. Deixei o carro perto da praça e fomos andando. Caminhamos de braços dados e percebi que aquele foi o mais próximo que cheguei dele desde a perda de memória.
- Onde vamos? - perguntou ele, alguns minutos de silêncio depois. Sorri quando paramos perto de um restaurante e de algumas outras lojinhas perto da praia.
- Tem um lugar que fomos e que, depois daquela noite, voltamos sempre que podíamos.
- Mas é compreensível que voltamos. Do jeito que gosta de comida, não seria nenhuma surpresa querer entrar no primeiro restaurante que encontra, gostar, e decidir voltar. - ele riu.
- Justin, você lembrou? - perguntei sem acreditar no que tinha ouvido. Ele parou de sorrir e parecia um pouco sem graça. Minhas esperanças foram todas pelos ares com sua resposta.
- Não, eu sinto muito. Quer dizer, eu deduzi que era, pelo que sei da sua personalidade e... Espera, porque achou que lembrei? Foi assim que aconteceu?
 Ouçam Daughtry - Wild Heart
- Foi exatamente assim que aconteceu. - afirmei. Mas resolvi deixar aquilo pra lá e o puxei delicadamente pela mão para entrarmos no estabelecimento. - Mas pra nós, isso aqui era bem mais do que um simples restaurante. - sorri de novo, resolvendo esquecer o pequeno incidente anterior.
  Justin estava curioso e animado. O garçom, que já nos conhecia, não precisou perguntar mais de duas vezes sobre o que iríamos pedir. Era um senhor gentil, que sempre arrumava os óculos de cinco em cinco minutos. Expliquei pra ele que, além da excelente comida, do conforto e ótimo atendimento, mostrei a ele o andar de cima, que tinha um pequeno espaço de leitura para os clientes que preferiam um ambiente mais calmo para comer e ler.
  Mostrei o lugar pra ele enquanto esperávamos nossa comida ficar pronta, e ele estava muito contente. Não disse pra ele que aquele era seu "restaurante" favorito devido ao espaço que agora via diante dele. Porque aquela tinha sido a mesma reação que ele teve quando esteve aqui da primeira vez. Voltamos pra mesa e comemos. Ele estava ainda mais empolgado e isso me fazia rir. Durante a conversa e algumas curiosidades que eu contava pra ele, a comida acabou mais rápido do que percebi: como sempre, é claro. O garçom deixou uma caixa de chocolates sobre a mesa e foi atender outro cliente. Justin, obviamente, não entendeu.
- Além de todas as coisas que te contei, - comecei. - aqui eles tem uma espécie de roleta russa, só que de chocolate. A graça disso é que, não importa quantas caixas você compre, nunca dá pra saber qual é gostoso ou não.
- Vamos fazer assim, então: pegamos um bombom aleatório e provamos ao mesmo tempo. Quem fizer careta perde um ponto. - propôs ele. Me perguntei se ele tinha se lembrado disso, porque se não, era isso que fazíamos sempre que estávamos aqui. - Quem fizer mais careta, vai ter que deixar a Ashley a pintar as unhas de rosa.
- Oh não! - ri, mas aceitei a aposta.
  Pegamos nossos bombons e comemos. Ele fez careta enquanto o meu chocolate era maravilhosamente doce. Quando terminamos, eu tinha perdido a aposta. Eu estava tão contente que não importei que deixaria a loira pintar minhas unhas. Ele insistiu em pagar a conta sozinho e saímos dali de barriga cheia e risonhos.
  Nós andávamos pela orla da praia, de braços dados, conversando sobre como alguns clientes nós olhavam estranho por causa das nossas risadas, quando começou a chover. No começo, eram gotas tão mínimas  que não nos importamos muito. Mas depois a chuva ficou mais forte. Quando decidimos correr até o carro, já estávamos encharcados. Ele começou a cantarolar e correr, me puxando pela mão. Decidi me deixar levar pelo momento e não me preocupar com uma futura gripe.
   Justin me segurou pela cintura com as duas mãos e me ergueu no ar, antes mesmo que eu tivesse chance de reagir. Ele estava se divertindo imensamente. E eu também. Apoiei as mãos em seus ombros e ele deu uma volta comigo naquela posição. Quando me pôs no chão, continuei com os braços apoiados em seus ombros e ele com as mãos em minha cintura. Gradativamente, não estávamos mais rindo. Observávamos os olhos um do outro, em um encantamento silencioso.
  Foi maravilhoso enquanto durou. 


Roupa do Justin: http://data2.whicdn.com/images/117818315/large.gif
Roupa da Anna: http://data1.whicdn.com/images/131080905/large.png

4 de mar. de 2015

My Dear Nerd - Heart by Heart - Capítulo 20 - Estamos Juntos?

  POV ANNA
 Tentei explicar meu ponto de vista para elas. E alguns fatos que sustentavam minha teoria.
 Caitlin entendeu, mas Sara continuou um tanto irritada.
- Essas pessoas, sinceramente, não tem nada melhor pra fazer. - comentou ela, andando ao lado de Caitlin que andava ao meu lado. Era nosso tempo vago, e foi uma surpresa agradável cruzar com Sara no corredor. Nosso destino era, como quase sempre, a área externa do campus. Sabe, a parte do jardim, que para minha felicidade, ficava próxima da biblioteca.
- Eu lembro bem da época que todos pensávamos que Justin e Britney eram mesmo um casal. Fiquei muito confusa, porque vocês pareciam ser felizes juntos. Todos achavam. - disse Cait. - Agora está tudo se encaixando muito bem. Não é porque sou sua amiga, mas, na minha opinião, eles não pareciam felizes, sabe? Ou pelo menos não o Justin. Britney tinha uma espécie de felicidade maléfica, se isso é possível.
- Então quer dizer que Emília só está seguindo os mesmos passos de Britney? Se aproximando do Justin para ferir você? - indagou Sara.
- Sim, está.
- Isso é muito infantil.
- Sim, bastante. - concordei com Sara. - É por isso que não vou me deixar abalar, pelo menos vou tentar. Já passei por isso antes, claro que não da mesma forma, mas, acho que sei como contornar a situação.
- Porque não falou pra ele sobre esse tipo de pessoas? Quer dizer, poderia ter evitado...
- Não evitaria, Cait. Só o incitaria a ir ainda mais. - discordei. - Justin é uma pessoa curiosa, não importa se ele lembra disso ou não. Eu até falaria, mas preferi que ele tivesse sua impressão dela sozinho; porque eu acreditava que ela agiria como a criatura desprezível que ela é.
- Você não esperava que ela fosse se jogar em cima dele. - Sara explicou com palavras o que eu queria dizer. Continuamos andando, e quando chegamos ao nosso destino, sentamos na grama lado a lado, e por um momento, ficamos quietas, apenas observando as pessoas passarem. Havia uma quantidade razoável de pessoas aproveitando o tempo livre por ali, assim como nós.
 Foi assim que lembrei que Sara e Justin estavam no mesmo curso, e, por tanto, na mesma classe.  Perguntei a ela sobre ele e não gostei da resposta.
- Estávamos saindo quando Emília apareceu com seu grupinho. Ela puxou ele pra longe, e o retardado me deixou plantada lá feito uma batata. - reclamou, mas acabei rindo depois. Só da afirmação final, é claro. Tentei não pensar que Justin e Emília poderiam estar em qualquer lugar, fazendo qualquer coisa e... Melhor não pensar nisso, pensei.
- Você está passando tempo demais comigo. - disse pra ela, que riu.
- Daqui a pouco, além de usar comida pra expressar como fiquei puta da vida por ele ter me largado, vou me de vestir batata-frita e cantar que sou crocante e salgadinha.
  Rimos todas. E por um longo tempo.
  Era a primeira vez que eu dava uma risada, desde o acidente de Justin.
  Sara tinha essa coisa de fazer as pessoas em volta dela rirem, e era tão natural que ela parecia não saber que era uma das pessoas mais engraçadas que já conheci.
POV JUSTIN
 Aquela garota era muito estranha. A declaração de Anna foi bem específica hoje de manhã, e entendi perfeitamente que ela se referia a Emília em gênero, número e grau.
 Apesar disso, deixei que me guiasse.
 Creio que Anna Mel estava apenas tentando me ajudar, porém, minha curiosidade me instigou a continuar. Queria constatar eu mesmo que tipo de pessoa Emília era. E a verdade, é que não tive uma boa primeira impressão dela. Ela dizia coisas como eramos grandes amigos, de como tivemos um breve romance e de como Anna Mel ficou louca de ciúmes e que eu planejava acabar com ela para ficar com Emília. Apesar de estar confuso, eu não era ingênuo. Detectei a mentira assim que a ouvi. Podia não lembrar de nada, mas sabia que era um blefe, não só pelo jeito que ela contou mas, pela reação de surpresa de seus amigos: se fosse verdade, ninguém ficaria tão surpreso daquele jeito.
 Mas ainda estava curioso sobre aquela garota mentirosa. Quando saí da sala, ao lado de Sara, fui puxado pelo braço mais uma vez por Emília. Ponderando rapidamente se deveria permitir, concluí que se passasse mais tempo com ela, poderia descobrir mais coisas.
 O fato é que ela era ainda mais mentirosa e insuportável do que constatei da primeira vez. Eram histórias loucas de como nós dois planejávamos fugir, de como eu detestava o cãozinho de Anna e da minha suposta felicidade quando Angelina tentou por fogo na bolsa de Anna Mel com Amora dentro.
 Repulsa.
 Foi o que senti por ela.
 Uma reação instintiva, e me parecia bem familiar.
 Poderia ter esquecido uma boa parte da minha vida, mas sabia que jamais seria capaz de machucar um ser vivo. Principalmente se fosse um cãozinho. Apesar do pouco tempo que passei naquela casa, me apeguei rápido demais a todos aqueles cachorros e não conseguia me imaginar feliz com a quase morte de um deles. Por mais que tentasse. Amora era a menor de todos os cães daquela casa, e assim, a mais indefesa. Se parecia com sua dona tanto no tamanho (as duas eram baixinhas) como na fofura e temperamento. E ri quando lembrei da carinha de brava que Amora fez quando a tirei de sua soneca.
 Infelizmente, Emília entendeu aquilo como um avanço significativo.
 Ela continuou falando, mas minha atenção já não estava mais nela. Meu olhar estava concentrado num grupo de jovens rindo e conversando. Muito rápido, identifiquei Sara que provavelmente contava suas piadas que sempre me faziam rir. Depois Caitlin, e por fim, Anna Mel. Havia rapazes ali, e todos riam e brincavam como se não houvesse amanhã. Um desejo louco de estar ali com eles surgiu, sendo intensificado pela vontade de bater no cara mais próximo de Anna, que estava visivelmente flertando com ela.
 Emília puxou meu braço, pedindo atenção.
- Porque está olhando para aqueles fracassados? - perguntou ela, desdenhosa. - Você costumava detestá-los. - afirmou.
- E porque eu os detestava? - perguntei, curioso por saber até onde ela iria chegar. Enquanto ela mentia, Anna acabou me vendo ali e me olhou com uma intensidade que me deixou envergonhado. Foi quando Emília segurou meu rosto e me beijou. Não durou muito porque a empurrei para longe de mim, já bem irritado.
- O que pensa que está fazendo? - questionei, demonstrando toda a minha irritação.
- Ué, eu só...
- Quer saber? Esqueça. - interrompi. - Você é uma mentirosa e egoísta. Uma garota mimada, mal criada. A conheço há poucas horas, e já tenho pena de você. Nunca mais me procure e faça o favor de esquecer que existo. - percebi que a cada palavra que ouvia, ela ficava mais furiosa, mostrando quem era de fato. Depois disso, levei uma bofetada. É. Eu já esperava por isso, esse era o motivo de não me abalar ou ficar furioso. Apenas ri o que visivelmente a deixou ainda mais irritada. Ela estendeu a mão para me bater mais uma vez, porém, segurei sua mão antes que o fizesse.
- Vai se arrepender disso, Justin. - foi tudo que disse. Fiquei feliz quando Emília foi embora, mas quando me virei, no entanto, Anna Mel já não estava mais lá.
 Sara balançava a cabeça em desaprovação, e presumi que tinha visto Emília me beijar.
 Os outros pareciam não ter percebido nada.
 Eu, no entanto, só queria localizar Anna. E pedir desculpas.
[...]
 No fim das aulas, o carro estava mais vago. Anna não foi com a gente na volta pra casa, e nem vi Sara. Presumi que estavam juntas, falando sobre coisas de garotas, ou Sara estaria dizendo como sou um bobão e ao mesmo tempo, tentando arrancar algumas risadas da amiga. Eu queria muito me desculpar com ela.
 Em casa, Mike e Damon assistiam ao basquete e faziam suas apostas. No outro canto da sala, Caitlin e Ashley estavam bastante atentas no xadrez; pelo menos, Caitlin tentava ensinar alguma coisa do jogo pra loira, que reclamava a falta de cor no tabuleiro. Entediado e preocupado com a demora de Anna, subi as escadas que levavam aos corredores de quartos com Collin e Amora em meu encalço. Foi engraçado assistir Amora tentar subir os degraus sozinha, mas conseguiu com muito esforço. Sentei perto da janela, e pensei como tive um dia e tanto. Pensei também no jeito como Anna Mel olhou para mim quando me notou perto de Emília. Ela passou de alegre para triste em um piscar de olhos. Eu me sentia muito culpado por isso. Entre esses pensamentos, vi Sara e Anna saírem juntas de um carro preto. E depois John. Presumi que tinham passado a tarde juntos, e fiquei aliviado por saber que ela estava com meus amigos. 
  Eles conversaram por alguns minutos e até deram algumas risadas. Despediram-se com um abraço e Anna entrou. Ao ouvir a voz da dona no andar de baixo, Amora foi em sua direção sem olhar pra trás.
POV ANNA
  Peguei minha cadelinha nos braços e subi as escadas, depois de levar uma bronca do meu irmão e da loira por não avisar que ia demorar. Aquilo me fez rir por dentro.
  Fiquei aliviada ao chegar no meu quarto e sentar na minha própria cama. Um lugar só meu. O problema foi que isso me fez lembrar o longo dia que tive, e que estava durando tempo demais. Procurei pensar no conselho de Sara, mas a única coisa que me vinha na cabeça era Emília beijando Justin. Eu ainda não sabia o que fazer sobre isso.
  Era uma situação muito confusa.
  Nós dois namorávamos, mas ele não lembrava disso. E como não lembrava, não achava que estava no meio de um relacionamento. O que significava, creio eu, que não tínhamos mais nada.  
   Doeu perceber aquilo.
   Meus olhos estavam marejados quando ouvi batidas na porta. Respirei fundo e deixei quem batia entrar. Era justamente quem eu menos esperava.
- Oi. - disse ele, parado na porta.
- Oi. - respondi. Justin deu um passo para dentro. Parecia bem tímido. - Você demorou pra chegar hoje.
- Eu sei.
- Ficamos preocupados.
- Sinto muito. - foi tudo que respondi.
- Quero falar com você sobre algo.
- Pode falar. - ele sentou do meu lado na cama, como se estivesse a ponto de dizer algo importante, e tudo que eu menos gostaria era de ouvi-lo falar de Emília de modo romântico.
- É sobre o que você viu hoje de manhã...
- Justin, não. - interrompi. - Não preciso ouvir isso, é obvio que vocês se entenderam e...
- Não era isso que ia dizer. - revelou ele. - Na verdade, queria pedir desculpas por aquela cena. Sinto que magoei você e não tive intenção de fazê-lo. Me desculpe, mesmo. Percebi quem aquela garota é de verdade, e nunca mais irei me aproximar dela.
- Tudo bem. - dei um sorriso sem mostrar os dentes. Fiquei feliz por ele ter vindo se desculpar mas tinha alguma coisa ali. Não tinha acabado, ainda não.
- Mas preciso dizer que estou confuso com nossa situação. Mas que fique claro que meus pedidos de desculpas permanecerão mesmo depois da resposta. - ele respirou fundo para tomar coragem e olhou fixo nos meus olhos. - Nós somos ou não namorados? - exatamente o tipo de pergunta com o tipo de resposta que estava evitando.
- Nós eramos, pelo menos até você perder a memória. - respondi, já sentindo a dor que a verdade iria provocar. Mas continuei firme.
- Ainda somos? - questionou, chegando mais perto.
- Acho que não. - respondi. E pela minha lógica, era a mais pura e dolorosa verdade. Apesar de não significar que iria desistir dele.
- Você acha? - decidi que Justin parecer decepcionado com a resposta era tudo coisa da minha cabeça. Quando afirmei que sim, ele apenas sorriu e saiu do quarto.
  Sozinha e percebendo o que tinha acabado de fazer, comecei a chorar.
[...]
  Meus dedos do pé estavam sentindo a mesma dor de todas as madrugadas famintas, de todas as vezes que vou para a cozinha no escuro e acabo batendo em tudo. Fiquei surpresa por ver a luz da sala acesa, e peguei a primeira frigideira que vi: o faqueiro estava longe demais. Fui andando na ponta dos pés, pronta para acertar o ladrão desprevinido na cabeça.
Não fui tão rápida.
Se fosse um ladrão de verdade, estaria perdida. Mas não era.
Justin me olhava assustado, segurando minha mão no ar. Mesmo surpresa, ri do susto e da felicidade por não ser um ladrão. Ele também riu, mesmo sem entender.
- Você queria ver se minha memória voltava dando outra pancada na minha cabeça? - perguntou enquanto soltava meu braço. Percebi o tom de brincadeira em sua voz.
- Pensei que fosse um ladrão.
- Ainda bem que não sou. - rimos. - Sentiu fome de novo? - perguntou.
- Na verdade, só queria tomar um chocolate quente. Isso sempre me ajuda a dormir. - respondi. Ele vestia uma blusa preta de mangas e uma calça de moletom cinza. O cabelo estava um pouco bagunçado e parecia mais bonito com aquela carinha de sono. Justin sorriu pra mim, ficando ainda mais bonito. Precisei me concentrar muito para não ficar parada como uma idiota, olhando pra ele.
- Também sem sono? Estou começando a suspeitar que isso pode ser contagioso. - brincou. Justin caminhou até a mesinha de centro e pegou uma caneca bege, estendendo-a na minha direção. - Chocolate quente. 
 A caneca estava cheia até a metade. Tomei um gole, sentindo o sabor maravilhoso que tinha. Justin andou até a porta da frente e saiu da casa. O segui ainda segurando a caneca de vidro. 
- É triste não ter nenhuma estrela esta noite. - disse ele quando parei ao seu lado. Olhei para a vastidão do céu negro que se estendia sobre nós. Não tinha nenhuma estrela, mas não deixa de ser lindo. A calmaria da madrugada deixa tudo ainda mais "mágico". - Você deveria ter visto quando elas estavam no céu. Deu até pra localizar a Ursa Menor. 
- Espero que não seja um tipo de trocadilho por a pessoa que está do seu lado ser baixinha. - brinquei, tomando outro gole do chocolate quente. Justin riu.
- Como você mesma diz: nos menores pacotes, estão os melhores salgadinhos. - ri com ele, contente por lembrar daquilo que falei por acaso há duas semanas atrás. Era um bom sinal, não era? Não de memórias reavidas, mas de sentimentos.
- Acha que ainda temos chances de ver alguma constelação hoje?
- É mais provável que apareça chuva do que estrelas. - apontou para uma nuvem imensa que se deslocava no céu. Não sei como não a notei antes. Senti as mãos dele segurarem as minhas e seus olhos observarem os meus. - Sinto muito mesmo. Eu não quero te machucar, Anna.
- Tudo bem, Justin.
- Eu realmente quero me lembrar de você. Juro que estou tentando. Sinto um vazio enorme, e nada parece fazer sentido. Odeio ter uma parte da minha vida da qual não lembro, é como um buraco no meio da estrada. Sei quem são Sara e John, mas não sei como e onde nos conhecemos. Não lembro de nenhum de vocês, nem dessa casa, nem dos cachorros. É horrível e assustador. 
- Entendo pelo que está passando. É muito triste pra todos nós, também.
- Espero que tenha paciência comigo e que me ajude com isso, porque, sinceramente, estou perdido.
- Eu sempre vou estar aqui por você.

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